sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Curso superior - Marcelino Freire



O meu medo é entrar na faculdade e tirar zero eu que nunca fui bom de matemática fraco no inglês eu que nunca gostei de química geografia e português o que é que eu faço agora hein mãe não sei.

O meu medo é o preconceito e o professor ficar me perguntando o tempo inteiro por que eu não passei por que eu não passei por que eu não passei por que fiquei olhando aquela loira gostosa o que é que eu faço se ela me der bola hein mãe não sei.

O meu medo é a loira gostosa ficar grávida e eu não sei como a senhora vai receber a loira gostosa lá em casa se a senhora disse um dia que eu devia olhar bem para a minha cara antes de chegar aqui com uma namorada hein mãe não sei.

O meu medo também é do pai da loira gostosa e da mãe da loira gostosa e do irmão da loira gostosa no dia em que a loira gostosa me apresentar para a família como o homem da sua vida será que é verdade será que isso é felicidade hein mãe não sei.

O meu medo é a situação piorar e eu não conseguir arranjar emprego nem de faxineiro nem de porteiro nem de ajudante de pedreiro e o pessoal dizer que o governo já fez o que pôde já pôde o que fez já deu a sua cota de participação hein mãe não sei.

O meu medo é que mesmo com diploma debaixo do braço andando por ai desiludido e desempregado o policial me olhe de cara feia e eu acabe fazendo uma burrice sei lá uma besteira será que vou ter direito a uma cela especial hein mãe não sei.


Marcelino Freire nasceu em 20 de março de 1967 na cidade de Sertânia, Sertão de Pernambuco. Vive em São Paulo desde 1991. É autor de EraOdito (Aforismos, 2ª edição, 2002), Angu de Sangue (Contos, 2000) e BaléRalé (Contos, 2003), todos publicados pela Ateliê Editorial. Em 2002, idealizou e editou a Coleção 5 Minutinhos, inaugurando com ela o selo eraOdito editOra. É um dos editores da PS:SP, revista de prosa lançada em maio de 2003, e um dos contistas em destaque nas antologias Geração 90 (2001) e Os Transgressores (2003), publicadas pela Boitempo Editorial. Visitem www.eraodito.blogspot.com e conheçam melhor o escritor e sua obra.

Texto extraído de seu novo livro "Contos Negreiros", Editora Record - Rio de Janeiro - 2005, pág. 97.

CHORUME - Renato Palmares


Esquerda, direita, socialistas, neonazistas
Ideologias...
Verdades herméticas

Holocaustos, progons, bálcãs. intifadas,
Genocídio ...
Idéias tétricas

Acordos, cúpulas, resoluções,
Diplomacia...
Mentiras éticas

Fodidos, expatriados, espoliados
Abutres obesos, crianças esqueláticas .

Lixo nuclear, hospitalar, gases tóxicos, esgoto...
Agonizante Terra !
Extração, devastação, queimadas,desertificação,
Bioinrresponsabilidade...
Hemorrágica serra!
Latifundiários, garimpeiros, predadores, povos indígenas...
Pintura de guerra!
Ganância, monte de bosta que ao bom senso soterra!

Supérfluos, descartáveis, propaganda, marketing, mídia...
Falsa empatia!
Vantagens, privilégios, pretensão, futilidade, arrogância...
Infame burguesia!
Justiceiros, coxinhas, chacinas, traficantes, nóinhas... Pragas da periferia!

Sexismo, estrupos, mães-menininha, abortos, natimortos...
Repulguinante, pedofilia!

Católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, intolerância...
Insanos pregadores!

Capitalismo, tecnoburocratas, monetarismo, moedas, cotações...
Vampiros especuladores!

Geopolítica, supremacia, territórios, água, petróleo...
Beligerantes senhores!

Conflitos, fratricídio, fanatismo, ceticismo, auto-destruição...
Deprimentes estertores!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Paulo Leminski


AÇO E FLOR
Quem nunca viu
que a flor, a faca e a fera
tanto fez como tanto faz,
e a forte flor que a faca faz
na fraca carne,
um pouco menos, um pouco mais,
quem nunca viu
a ternura que vai
no fio da lâmina samurai,
esse, nunca vai ser capaz.

LÁPIDE 1
epitáfio para o corpo
Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito
são suas obras completas.

LÁPIDE 2
epitáfio para a alma
aqui jaz um artista
mestre em disfarces
viver
com a intensidade da arte
levou-o ao infarte
deus tenha pena
dos seus disfarces

Wally Salomão



Mundo e ego : palcos geminados.
Quero crer que creio
E finjo e creio
Que mundo e ego
Ambos
São teatros
Díspares
E antípodas.
Absolutos que se refratam / difratam…
Espelhos estilhaçados que não se colam.
Entanto são
Ecos de ecos que se interpenetram
Partículas de ecos ocos, partículas de ecos plenos que se conectam
Aí cosmos são cagados, cuspidos e escarrados pelo opíparo caos
E o uso do adjetivo está correto
Pois que o caos é um banquete.
Fantasmas de óperas.
Ratos de coxias.
Atos truncados.
Há uma lasca de palco
em cada gota de sangue
em cada punhado de terra
de todo e qualquer poema.

O Rappa - Vapor Barato Letra de Wally Salomão Música - Jards Macalé

Oh, sim, eu estou tão cansado
Mas não pra dizer que não acredito mais em você
Com minhas calças vermelhas
Meu casaco de general
Cheio de anéis
Vou descendo por todas as ruas
E vou tomar aquele velho navio
Eu não preciso de muito dinheiro
(graças a Deus!)
E não me importa honey
Oh minha honey baby
baby honey baby
Oh, sim, eu estou tão cansado
Mas não pra dizer que eu estou indo embora
Talvez eu volte um dia
Eu volto
Mas eu quero esquecê-la
Eu preciso
Oh, minha grande, oh minha pequena
Oh, minha grande obsessão
Oh minha honey baby
baby honey baby

Cântico Negro - José Régio




"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

BINHO no Provocações

Binho o grande Binho no Provocações ! Um momento importante na história desse cara apaixonante, constrói sua história de alquimista transformando sonhos em coisas concretas e generoso como poucos, raros seres, nos dá a oportunidade de participar com ele de tantas coisas lindas como a caminhada Donde Miras, para ficar só em um exemplo .




ATEULOGIA - BINHO

Minha desmissão é esta
Levar a maior fé nos ateus
Principalmente quando deus,não está por perto
E por falar nisso
Amanhã bem cedo vou ao cartório
Passar Deus no meu nome
E depois se estiver chovendo
Provavelmente vai estar
Vou pôr o sol pra brilhar pra nós
Vou põr o sol
Pra brilhar
Pra nós

Violetas - Katia Portes Leão


Lia-se Floratta no bordado azul da camisa engomada do entregador. Maria esperava cobranças, anúncios de cheques devolvidos, cortes de luz devido às contas não pagas.
Flores?
Não. Não esperava flores. Verdade que nunca recebera flores em ocasião alguma, mas o espanto era outro e punha os olhos nas flores, paradas nas mãos do entregador, como fossem criaturas de outros mundos, como questionasse a natural beleza de cada pétala.
- Flores? –pensara alto.
- Violetas – disse, o entregador de mãos cansadas, nunca segurara um ramalhete de flores durante tanto tempo e, afinal de contas, que homem mandaria flores a uma mulher que não sabe que Violetas são Violetas? – são da família das gesneriáveas, pode-se notar por suas folhas ovadas, dispostas em rosetas e flores violáceas, nativas da África. Violetas-Africanas, senhora.
Arnaldo vestia todas as decisões de Maria: as calças marrom com camisas bege e meias pretas. Decidiu-se bem e sozinho desta vez: o roxo das violetas harmonizou-se bem com o sangue pisado de seu olho esquerdo. As violetas e violências têm algo em comum.

Como fosse uma murraça algo tão poético. Devia Maria sentir-se recompensada por um ramalhete de flores? O símbolo do desabrochar, o símbolo do melhor e mais belo momento da natureza. O melhor momento e a melhor forma para retratar-se?

Violetas.

O juiz, claramente seu igual, Homem, declara a sentença com sua pose e censo de justiça. Claro, por que não, violetas para ela e tudo se resolverá.
Pois bem, Sr. Juiz, setencie, utilize-se de sue bom censo na melhor aplicação do que podemos chamar de justiça. Favoreça nossas mulheres, vítimas de atrozes violências dos mais variados tipos e pesos e medidas. Puna o causador (e neste caso, que o masculino desta palavra esteja claro e evidente), puna, cobre dele a entrega de belas flores e algumas cestas básicas para esta mulher através de nossa justiça básica e rasa. E então, Maria sequer conseguirá repousar, dormir, por uma noite, uma hora, um minuto, pois a campainha de sua modesta casa no miserável bairro de Vista Alegre, ironicamente, claro, nomeado assim, jamais deixará de tocar.

As floriculturas terão recorde de vendas, nunca serão plantadas e colhidas tantas flores, nunca serão contratados tantos entregadores para tocar tanto e tantas vezes a campainha da casa modesta de Maria, no bairro Vista Irônica e talvez, por isso, alegre.

Maria, que nunca recebera uma flor sequer, terá sua casa invadida por flores, de todas as cores, espécies e regiões. As flores tomarão o espaço do sofá, se instalarão no forno, nos ralos, nos travesseiros, nos armários, nos azuleijos, nas redes elétricas, por dentro dos sapatos, nos rádios, nos potes de fermento, no teto, nos botões, nas ratoeiras, por dentro dos colchões, pelos cantos, emboladas ao pó, enroscadas em traças, baratas, mosquitos, as flores roubarão sua casa, seu lar, seu sossego.

Ok. Um vaso de flores como um bom pedido de perdão por seus olhos violáceos, por sua paz física violada.
Sim. Violetas. Um ramalhete de flores por cada violência religiosamente cotidiana, desde seu nascimento até sua morte.
E Maria sorrirá, bondosamente:
- Muito obrigada, senhor, muito justo!

Mulher é mesmo um bicho frágil, ouve-se, constata-se facilmente e em toda parte nos livros, nos discos, nas propagandas, nos dicionários de nossa língua.
Ouve-se por toda parte, por toda a vida, mulher é um bicho mortal mesmo, fraco, sensível.
Mulher é um bicho mãe.
Lava, passa e cozinha muito bem. Nasce-se mãe, morre-se mãe. E mãe ganha menos, óbvio.

Vamos, Maria, a campainha está tocando! Mais flores, mais agressões. Tudo bem, tudo bem, receba com um grande e agradecido sorriso o entregador, não o deixe esperando. Ponha as flores enfileiradas nas beiradas de suas janelas. Deixe-as morrer ao sol, negue-lhes uma gota d’água.
Torture-as.

Espere, Maria, pacientemente, pois é um privilégio que a nossa justiça seja cega, mas burra não.

O Enterrado Vivo - Carlos Drummond de Andrade


É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

Charles Bukowski


Se vai tentar
siga em frente.

Senão, nem começe!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...

A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.

Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.
Charles Bukowski

GOG NA COOPERIFA

Esse video é sensacional !!! A inteligência, o carisma, a sensibilidade de um dos mais ( senão o mais ) talentosos e respeitáveis nomes do RAP tupiniquim . Vejam e sorvam essa sabedoria !